Já aqui escrevemos que ‘demasiado grande para colo’ é coisa que não se aplica aos cães? Já?! Não faz mal. Escrevemos outra vez. 
Este é o Aquiles. Foi adoptado há quase quatro anos na União Zoófila, após três anos de espera.
O Aquiles foi acolhido na União Zoófila quando era ainda praticamente um bebé, há sete anos. Tinha nascido com a patinha dianteira esquerda muito mais curta do que as demais.
Foi preciso amputá-lo completamente pois ele arrastava o coto pelo chão, pelo que a patinha mais curta apresentava-se sempre ferida.
Após a cirurgia, o Aquiles reaprendeu a andar, a brincar e até a correr, embora fosse preciso evitar que se esforçasse demais, já que a este amigo foi entretanto diagnosticado um problema cardíaco.
O Aquiles passou mais de três anos à espera na União Zoófila.
Durante três anos, o Aquiles foi olhado com pena. E até desprezo. Certo dia, alguém, reparando nele, comentou: ‘Era o que faltava, eu não quero um cão perneta! Fiquem vocês com ele.’ Foi-lhe mostrado o caminho para o portão da União Zoófila.
Eventuais adoptantes podem, naturalmente, preferir uns cães aos outros. Mas espera-se que não desmereçam nenhum.
O abrigo é casa deles, de 800 cães e gatos. Ninguém tolera insultos na sua casa. Nós também não.
O Aquiles nunca foi um coitadinho sem uma pata e com um problema de coração. Nunca! Esse – coitadinho – foi adjectivo que nunca lhe serviu. Forte, alegre, guerreiro, belo, sim, serviram-lhe como uma luva, a que faltasse um dedo, pois sim, e então?
O Aquiles esperou. E um dia aconteceu: a família do Aquiles chegou. O Aquiles foi adoptado.
Quase quatro anos depois, o nosso querido, querido, querido amigo vem aqui provar que nenhum cão é demasiado grande para colo.
(Aquiles, doce, já não precisas de nós para nada. Nada. Encontraste o teu lugar. Esperamos que nos tenhas esquecido. É tão bom ser esquecido assim. É tão bom não ser necessário. Tão bom. )
Muito, muito, muito obrigada aos adoptantes! E muito obrigada, outra vez! E só mais uma: muito obrigada!
